Faustino Cavaco – Vida e Morte de Faustino Cavaco – (Organização de Rogério Rodrigues) – Edição Heptágono – 1989. Desc.[516] pág / 21 cm x 14 cm / Br. «1.ª Edição»
Há 30 anos, seis condenados escapavam da cadeia. Os “Cavacos” eram os mais mediáticos e Faustino o mais temido. Bruno Vieira Amaral recorda os crimes e a paranóia colectiva que tomou conta de Portugal. Por volta das quatro e meia da tarde de 28 de Julho, Germano Ramiro Raposinho, de 32 anos e a cumprir uma pena de 25 por homicídio, dirigiu-se ao edifício da portaria para entregar toalhas lavadas para a casa-de-banho. Apesar da reconhecida perigosidade, Raposinho, um algarvio filho de negociantes de peixe, trabalhava na lavandaria e, como tal, beneficiava de alguma liberdade de movimentos no interior da prisão. Recebido pelo guarda António José Paulino, atingiu-o de imediato com dois tiros de uma pistola escondida entre as toalhas. Outros cinco reclusos que aguardavam no pátio juntaram-se a Raposinho. No interior do edifício, destruíram o rádio para impedir comunicações com o exterior e arrombaram o armeiro de onde tiraram quatro G3 e cinco pistolas. Três guardas que tentaram travar a fuga foram abatidos a sangue-frio e outro ficou ferido. Outros três foram feitos reféns e usados como escudo pelos cadastrados para chegarem ao exterior. Aí entraram numa carrinha celular Ford Transit e, já na estrada, dispararam rajadas de metralhadora na direcção de uma bomba de gasolina nas imediações da prisão, com o provável intuito de provocar uma explosão que atrasasse a perseguição. Poucos quilómetros à frente, no cruzamento de Grândola e do Carvalhal, mandaram parar um Ford Fiesta de matrícula espanhola (BI-4624-YO), expulsaram os ocupantes. Quatro dos fugitivos entraram para o carro tendo os outros dois seguido viagem na Ford Transit. Ainda precisavam de outro carro, que não demoraram a encontrar. Era um Ford Escort branco de um casal que ia de férias para o Algarve. A mulher só pediu que não fizessem mal ao gatinho que levava ao colo. Os fugitivos abandonaram o carro celular com os reféns lá dentro (um dos cadastrados terá defendido que os deveriam matar, tendo sido dissuadido pelos outros), dividiram-se em dois grupos de três e seguiram para Sul nas viaturas roubadas. A partir daí a polícia perdeu-lhes o rasto. Do grupo de seis fugitivos faziam parte dois ex-pára-quedistas, Augusto José Ramalho, o “Tony”, e José Fernandes Gaspar, o “Zé Guerreiro”, o primeiro condenado a cinco anos por roubo e o segundo a vinte anos por assalto à mão armada. Carlos Alberto Ferreira Pereira, natural de Alenquer e conhecido como “Carlos da Malveira”, cumpria uma pena de dezassete anos também por assalto à mão armada. Os outros três eram algarvios: Germano Raposinho, que cumpria a pena mais pesada pelo homicídio de um funcionário de uma bomba de gasolina durante um assalto, era de Quarteira; Vítor Clemente Cavaco, de 32 anos, o “Vítor Ameixa”, condenado a 17 anos por vários roubos, era natural de Loulé; José Faustino Cavaco, o “Americano”, condenado a 19 anos pelo homicídio de um agente da PSP, Manuel Laginha, que teria sido seu cúmplice em vários assaltos, era de Salir, concelho de Loulé.