José Vianna da Mota – Musica e Músicos Alemães (Recordações, Ensaios, Criticas) – Publicações do Instituto Alemão da Universidade de Coimbra – Coimbra – 1941.Desc.(LVII) + (323) pág.B.
Vianna da Motta ou Viana da Mota segundo a ortografia vigente, (São Tomé, São Tomé e Príncipe, 22 de Abril de 1868 — Lisboa, 1 de Junho de 1948) foi um pianista, compositor, maestro e musicógrafo portuguêsJosé Vianna da Motta nasceu na ex-colónia portuguesa São Tomé. Pouco tempo depois, viajou para Lisboa com os seus pais, José António da Motta, um farmacêutico, e Inês de Almeida Vianna, onde veio a estudar no Conservatório Nacional de Lisboa, então designado Conservatório Real de Lisboa. Revelou cedo uma grande proficiência para a música, particularmente para o piano, tendo composto a sua primeira peça musical com 5 anos de idade Por iniciativa do seu pai, foi levado à corte em 1874 tendo com isso obtido o patrocínio dos seus estudos pelo rei D. Fernando II e sua esposa, a Condessa de Edla. Até 1882, apresentou-se várias vezes não só em recitais privados mas também em recitais públicos, nomeadamente no Salão da Trindade. Durante esse período, compôs dezenas de obras – sobretudo para piano solo – dos mais variados géneros: valsas, mazurcas, polcas, marchas, fantasias, etc. Após concluir os seus estudos no Conservatório Nacional em 1882, partiu para Berlim, custeado pelo real mecenas, ingressando no Conservatório Scharwenka onde teve aulas de piano com Xaver Scharwenka e aulas de composição com o irmão Philipp Scharwenka. Estudou paralelamente com Carl Schaeffer, membro da Sociedade Wagneriana que exerceu grande influência em Vianna da Motta, a julgar pelo conteúdo dos seus diários. No verão de 1885, frequentou um estágio de piano de Franz Liszt em Weimar tendo por isso sido um dos últimos alunos do mestre húngaro. Parte dessa experiência é relatada por Vianna da Motta nas suas obras literárias A Vida de Liszt e Música e músicos alemães: Recordações, ensaios, críticas. Em 1887, frequentou o curso de interpretação de Hans von Bülow em Frankfurt am Main, experiência descrita por Vianna da Motta na sua correspondência e posteriormente publicada na obra literária Nachtrag zu Studien bei Hans von Büllow von Theodor Pfeiffer. Durante a sua carreira de pianista concertista, que arrancou verdadeiramente no ano de 1887, Vianna da Motta deu mais de mil concertos por todo o mundo – muitos dos quais perante presidentes, Reis e Imperadores – nomeadamente na Alemanha, em Portugal, em França, em Espanha, em Inglaterra, em Itália, na Dinamarca, no Brasil, na Argentina, no Uruguai, nos Estados Unidos, em Marrocos, na Rússia, etc. Destacou-se no quadro dos distintos pianistas da sua época sendo particularmente elogiado, pela imprensa e pela crítica, nas suas interpretações de Bach, Beethoven e Liszt. Tocou com músicos célebres da época, tais como Pablo de Sarasate, Guilhermina Suggia, Alice Barbi, Tivadar Nachéz, Enrique Fernández Arbós, Bernardo Moreira de Sá, Eugène Ysaÿe, etc. Foi amigo próximo de Ferruccio Busoni e Isidor Philipp e contactou com diversas personalidades do mundo da música, tais como Alfred Cortot. Fez parte da Maçonaria, tendo sido iniciado na Loja Ave Labor, do Porto, com o nome simbólico de Bontempo. Com o início da Primeira Guerra Mundial, Vianna da Motta viu-se obrigado a abandonar a sua residência em Berlim e, em 1915, instalou-se em Genebra. Aí dirigiu a classe de virtuosidade da Escola Superior de Música até 1917, ano em que regressou definitivamente a Portugal. À sua chegada a Lisboa, fundou a Sociedade de Concertos da qual foi o primeiro director artístico. Assumiu, em 1919, o cargo de director do Conservatório Nacional de Lisboa que manteve até ao ano de 1938. No primeiro ano do exercício dessa função, e com a colaboração de Luís de Freitas Branco, procedeu à reforma do ensino da música aí praticado modernizando os seus programas e métodos pedagógicos. Exerceu também o cargo de director musical da Orquestra Sinfónica de Lisboa entre 1918 e 1920. Realizou inúmeras primeiras audições em Portugal de obras há muito consagradas – como a integral das 32 sonatas de Beethoven, no centenário da sua morte assinalado em 1927 – e de obras de compositores seus contemporâneos. Publicou assiduamente artigos em revistas especializadas alemãs e portuguesas sobre técnica e interpretação pianísticas, assim como estudos acerca da música de Wagner e Liszt. Colaborou na revista A Arte Musical (1898-1915) e na revista Lusitânia (1924-1927). Entre os seus discípulos destacam-se os pianistas José Carlos Sequeira Costa, Maria Helena Sá e Costa, Maria Manuela Araújo, Elisa de Sousa Pedroso, Campos Coelho, Maria Cristina Lino Pimentel, Marie Antoinette Aussenac, Nella Maissa, Guilherme Fontainha, Maria da Graça Amado da Cunha, Fernando Corrêa de Oliveira, Luiz Costa, o musicólogo João de Freitas Branco e o compositor Fernando Lopes-Graça. José Vianna da Motta foi importante para a História da Música em Portugal no âmbito da “música de concerto”, por lhe caber o mérito da primeira procura e criação consciente de “música culta” de carácter nacional. São disso testemunho a sua obra mais relevante a Sinfonia “À Pátria” (que apresenta também a inovação entre nós do conceito lisztiano de música programática e em que, ao que parece, um compositor português usa pela primeira vez numa sinfonia, temas genuínos do folclore português), as suas composições pianísticas, as suas canções para canto e piano. Na Alemanha foi-lhe concedido o título de “Hofpianist” (pianista da Corte) por Carlos Eduardo de Saxe-Coburgo-Gota. Foi Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada (28 de junho de 1920), Grande-Oficial da Ordem Militar de Cristo (19 de abril de 1930) e Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada (2 de junho de 1938). Casou primeira vez com Margarethe Marie Lemke (Karlsruhe, Heidelberg, 31 de março de 1858 – Leipzig, 1900), filha de Julius Lemke (1828-1905) e de sua mulher Agnes Eckhardt (1831-1880), sem geração. Casou segunda vez com Anna Johanna Maria Harden, sem geração, e terceira vez com a actriz Berta de Bívar, de quem teve duas filhas, e de quem se divorciou. Faleceu em 1948, em Lisboa, tendo vivido os últimos anos da sua vida na residência de sua filha Inês de Bivar Vianna da Motta e do seu genro, o psiquiatra Henrique João de Barahona Fernandes. A sua outra filha, Leonor Micaela de Bivar Vianna da Motta, nascida em Buenos Aires, casou com João Apolinário Sampaio Brandão, com geração.José Vianna da Motta dedicou-se à composição desde muito cedo. A sua primeira composição, intitulada Primeira inspiração musical, data de 1873 quando tinha apenas 5 anos de idade. Durante a sua infância, até aos seus 14 anos de idade, Vianna da Motta compôs mais de cinquenta peças, sobretudo para piano solo. Estas peças de infância, compostas entre 1873 e 1883, são representativas da primeira fase criativa do compositor, fase essa que se caracteriza sobretudo pela composição de peças de baile, marchas, variações e fantasias sobre temas populares de óperas. Foi sepultado no Cemitério do Alto de São João, sendo homenageado em 1 de Outubro de 2016, com a sua trasladação para um jazigo novo no Cemitério dos Prazeres.