Afonso do Paço e José Farrajota – Subsídios Para Uma Carta Arqueológica do Concelho de Loulé (Vila Romana do “Cerro da Vila”, (Quarteira), Loulé Velho, Quarteira Submersa, Moedas do «Loulé Velho» (Separata de Arquelogia e História 8.º série das Publicações, Volume XII) – Associação dos Arqueólogos Portugueses – Lisboa – MCMLXVI / 1966. Desc.[67] ao [89] pág [18 Fig. Incluídas] / 25 cm x 19 cm / Br. Ilust
As ruínas romanas do Cerro da Vila são uma Estação Arqueológica localizada junto à costa marítima, praticamente no centro geográfico do conjunto turístico de Vilamoura, situam-se no distrito de Faro, no concelho de Loulé e mais precisamente na freguesia de Quarteira. Constituídas por várias banheiras e mosaicos romanos datados de mais de 2000 anos.Os primeiros vestígios e ruínas foram descobertos em 1963 pelo arqueólogo algarvio José Farrajota, que efectuou as primeiras escavações no local, continuadas posteriormente pelo arqueólogo José Luís de Matos que, durante cerca de 20 anos, procedeu aos principais estudos e deu estampa a vários artigos e publicações sobre o rico património nela existente. As ruínas agora visíveis, com enorme valor arqueológico, vieram dar um significativo contributo para o conhecimento das diversas civilizações que ocuparam o território do Algarve em épocas passadas. Neste local, ocupado por sucessivas civilizações, nomeadamente Romanos, Visigodos e Árabes, encontram-se testemunhos vivos de povos e gentes que aqui edificaram construções e aqui permaneceram durante nove séculos. Embora a área de Vilamoura tenha sido povoada desde remotas eras – como são testemunho as sepulturas da Idade do Bronze descobertas na Vinha do Casão – foram os romanos, a partir do século I d.C., os primeiros habitantes do local hoje denominado Cerro da Vila.O local hoje denominado de Cerro da Vila foi uma das zonas escolhidas para povoamento pelos romanos, devido à sua localização privilegiada nas margens de uma laguna com ligação próxima e fácil ao mar, que permitia abrigar os barcos nas suas paragens, no decurso das diferentes etapas das suas rotas comerciais, tal como Fenícios e Cartagineses o fizeram anteriormente. Neste local, tal como em todo o sul da Península Ibérica, a produção em grande escala de garum, uma espécie de conserva de peixe, era uma das principais e mais prósperas actividades económicas dos habitantes. Este produto era exportado para todo o Império Romano e especialmente para Roma, onde era muito apreciado. A exploração agrícola nos férteis terrenos de aluvião, embora provavelmente com menor importância, bem como o comércio de produtos diversos que se desenvolvia entre as várias cidades portuárias e povoados da região, como Ossonoba (Faro), Balsa (Luz de Tavira), Portus Hannibalis (Portimão) ou Lacobriga (Lagos) e outras do Império justificavam também a significativa importância económica dada à região. No século II e, particularmente, a partir do século III, a área residencial adquiriu uma expressiva dimensão. A água era um elemento sempre presente, jorrando das bicas e das estátuas para o lago do jardim, espaço central em torno do qual toda a casa se desenvolvia: uma grande sala de recepção e de refeições de Verão, os quartos, a cozinha, as áreas de serviços, que incluíam um criptopórtico. As paredes eram revestidas com estuques pintados a fresco, com cores garridas e motivos florais e geométricos. O pavimento era decorado com mosaicos multicolores. As esculturas de deuses e homens decoravam os espaços interiores, harmonizando um conjunto fantástico de cor e recorte de pedra. Pouco sabemos sobre a economia produtiva local, mas várias oficinas com tanques indiciam o fabrico de preparados de peixe ou, mais provavelmente, a tinturaria de tecidos a partir da púrpura. O achado de grandes quantidades de elementos importados, ânforas, lucernas, loiças e vidros, demonstra a integração do Cerro da Vila na rede comercial do Império Romano. Os senhores do Cerro da Vila fizeram-se sepultar em mausoléus com columbário, uma cripta com pequenos nichos laterais para a colocação das urnas contendo cinzas. Em época mais tardia, foi crescendo um vasto cemitério com sepulturas de inumação, só parcialmente descoberto. Um conjunto de silos da época islâmica, abertos no interior das casas romanas, denuncia a continuidade de ocupação dos edifícios. Tendo por fim a valorização e apresentação do sítio ao público, foi construído um museu de sítio onde está patente uma exposição monográfica. Foi ainda editado um Guia desdobrável de apoio à exposição. Prevê-se também a execução de sondagens na área portuária e o estudo dos mosaicos e da arquitetura da vila. Desde Setembro de 1977 está classificado como Imóvel de Interesse Público. Fazem parte do patrimônio Quarteirence, e fazem parte também dos vários centros atrativos e turísticos de Quarteira (Vilamoura).