
Guilherme de Almeida – Poetas de França – Companhia Editorial Nacional – São Paulo – 1936.Desc.(207)Pág.Br.

Guilherme de Andrade de Almeida (Campinas, 24 de julho de 1890 — São Paulo, 11 de julho de 1969) foi um poeta, cronista, jornalista, crítico de cinema, ensaísta, escritor de livros infantis, conferencista e tradutor brasileiro. É considerado um verdadeiro comunicador, tendo utilizado, sem preconceitos, quase todos os meios de comunicação disponíveis em seu tempo: livro, jornal, revista, cinema, teatro, rádio, letra de música e hinos. Guilherme de Almeida era filho de Angelina de Andrade e de Estevam de Araújo Almeida, advogado e professor de direito da Academia do Largo de São Francisco, atualmente Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Foi casado com Belkiss Barroso de Almeida, de cuja união nasceu o filho, Guy Sérgio Haroldo Estevam Zózimo Barroso de Almeida, que se casou com Marina Queirós Aranha de Almeida. Foi, com seu irmão, Tácito de Almeida (1889 – 1940), importante organizador da Semana de Arte Moderna de 22. Guilherme de Almeida publicou, em 1916, duas peças de teatro que escreveu a quatro mãos com Oswald de Andrade. Em 1917 publica seu primeiro livro de versos, Nós, que alcançou grande sucesso, sobretudo entre o público feminino. O poeta passa então a colaborar ativamente em revistas, como A Cigarra. Seus livros seguintes alcançam grande sucesso de crítica e de público, situação que se altera quando publica Meu (livro de estampas) e Raça, em 1925, considerados pelo poeta um fracasso de vendas por explorar uma linguagem mais experimental afim dos princípios modernistas. Neste mesmo ano, viaja ao Rio Grande do Sul, ao Pernambuco e ao Ceará com a intenção de divulgar a estética modernista, fazendo na capital destes estados a conferência A Revelação do Brasil pela Poesia Moderna. Em Pernambuco, Gilberto Freyre, defensor do Regionalismo, abre franca polêmica com Guilherme de Almeida. Um dos poemas de Guilherme de Almeida, “A Carta Que Eu Sei de Cor”, presente em seu livro “Era uma vez”, foi declamado na Faculdade de Letras de Coimbra, em 1930, na importante conferência “Poesia Moderníssima do Brasil” – esta conferência foi estampada na revista ‘Biblos’ (Faculdade de Letras de Coimbra), Vol. VI, n. 9-10, Coimbra, Setembro e Outubro de 1930, pp. 538 – 558; e no ‘Jornal do Commercio’, Rio de Janeiro, domingo, 11 de janeiro de 1931, página 3). Foi um dos fundadores da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, onde lecionou Ciência Política. Guilherme de Almeida foi ainda um dos fundadores da Revista Klaxon, que visava a divulgação da ideias modernistas, tendo realizado sua capa, assim como os arrojados anúncios da Lacta, para a mesma Revista. Elaborou também a capa da primeira edição do livro “Paulicéa Desvairada”, de Mário de Andrade. Os livros de Guilherme de Almeida são considerados pequenas obras-primas das artes gráficas, com capas e ilustrações realizados por artistas como Correa Dias, Di Cavalcanti, John Graz, José Wash Rodrigues e Anita Malffati. Guilherme de Almeida colaborou com diversas revistas que defendiam o modernismo, como a Terra Roxa, A Revista, Estética e Revista de Antropofagia, tendo escrito poemas-piada à moda de Oswald de Andrade, como o poema Humorismo (Meu, 1925) e outros publicados em revistas. Apesar disso, preferiu a ironia e a paródia à blague e à sátira propriamente. Defensor da democracia liberal e de uma poesia moderna e refinada, Guilherme de Almeida foi duramente atacado pelos escritores ligados ao Movimento Verde e Amarelo, de orientação proto-facista (integralismo) e que procuravam uma poesia mais “tosca” como Cassiano Ricardo. Porém, Mário de Andrade e outros escritores da época notaram que os livros de Cassiano Ricardo eram praticamente plágios da obra de Guilherme de Almeida. Ao ler Borrões de Verde e Amarelo, de Cassiano Ricardo, Mário de Andrade escreveu escandalizado “Meu Deus! O Gui [Guilherme de Almeida] é imitado em tudo neste livro!. Barbosa Campos é mais direto e acusa Cassino explicitamente de plagiar Guilherme de Almeida no artigo “O caçador Caçado – a propósito de um plágio de Guilherme de Almeida”. Sérgio Buarque de Holanda, Prudente de Moraes Neto e Oswald de Andrade também polemizaram contra Guilherme de Almeida. Estes escritores acusavam o poeta de não ser suficientemente radical, e de fazer uma poesia excessivamente inteligente e sutil. Os livros propriamente modernistas de Guilherme de Almeida são Era Uma Vez… (1922), A Frauta que Eu Perdi (1923), Meu (1925), Raça (1925) e, em parte, Encantamento (1925). Depois deste período, nota-se um arrefecimento do experimentalismo na poesia de Guilherme de Almeida. Isto porém, não o impede de produzir algumas obras-primas principalmente em seus últimos anos, quando escreve Rua (1961), Rosamor (1965) e Margem (1968, publicado postumamente em 2010). Porém, as obras do poeta mais aplaudidas pelos críticos literários são, até hoje, aquelas que compôs em sua juventude: Nós (1917), A Dança das Horas (1919), Messidor (1919 – obra que reúne as duas anteriores mais Suave Colheita) e Livro de Horas de Soror Dolorosa – Aquela que Morreu de Amor (1920, livro no qual os poemas são escritos do ponto de vista de um Eu Lírico feminino). Em muitas delas, Guilherme de Almeida já usa o humor e a paródia como forma de composição, bem como metáforas e comparações inovadoras. As obras de caráter modernista e as de sua última fase merecem uma revisão crítica, pois Guilherme de Almeida é um poeta pouco estudado. Até hoje não há edição completa de sua poesia. Foi o primeiro modernista a entrar para a Academia Brasileira de Letras (1930).Terceiro ocupante da Cadeira 15, eleito em 6 de março de 1930, na sucessão de Amadeu Amaral e recebido pelo Acadêmico Olegário Mariano em 21 de junho de 1930. Recebeu o Acadêmico Cassiano Ricardo. Em 1958, foi coroado o quarto “Príncipe dos Poetas Brasileiros” (depois de Bilac, Alberto de Oliveira e Olegário Mariano). A essência de sua poesia é o ritmo “no sentir, no pensar, no dizer”. Dominou amplamente os processos rímicos, rítmicos e verbais, bem como o verso livre, explorando os recursos da língua, a onomatopeia, as assonâncias e aliterações. Na época heroica da campanha modernista, soube seguir diretrizes muito nítidas e conscientes, sem se deixar possuir pela tendência à exaltação nacionalista. Nos poemas de Simplicidade, publicado em 1929, retornou às suas matrizes iniciais, à perfeição formal desprezada pelos outros, mas não recaiu no Parnasianismo, porque continuou privilegiando a renovação de temas e linguagem. Sobressaiu sempre o artista do verso, que o poeta Manuel Bandeira considerou o maior em língua portuguesa. Entre outras realizações, foi o responsável pela divulgação do poemeto japonês haikai no Brasil. Combatente na Revolução Constitucionalista de 1932 e exilado em Portugal, após o final da luta, foi homenageado com a Medalha da Constituição, instituída pela Assembleia Legislativa de São Paulo. Sua obra maior de amor a São Paulo foi seu poema Nossa Bandeira, além do Hino dos Bandeirantes – oficializado como letra do Hino do Estado de São Paulo – e da letra do hino da Força Pública (atual Polícia Militar do Estado de São Paulo). É proclamado “O poeta da Revolução de 32”. Escreveu o poema Moeda Paulista, a pungente Oração ante a última trincheira, a letra do “Hino Constitucionalista de 1932/MMDC”, O Passo do Soldado, de autoria de Marcelo Tupinambá, com interpretação de Francisco Alves. O poema treze listras em homenagem a bandeira do estado de São Paulo, que mais tarde foi feito o dobrado (música militar) treze listras do compositor e maestro Pedro Salgado É de sua autoria a letra da Canção do Expedicionário com música de Spartaco Rossi, referente à participação dos pracinhas brasileiros na Segunda Guerra Mundial. Autor da letra do Hino da Televisão Brasileira, executado quando da primeira transmissão da Rede Tupi de Televisão, realizada por mérito de seu concunhado, o jornalista Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo.Dedicou-se ainda a outras artes e atividades, além da literatura e da poesia: desenhista amador, cultivou também a heráldica, tendo criado o brasão das cidades de São Paulo , Petrópolis (RJ), Volta Redonda (RJ), Londrina (PR), Brasília (DF), Guaxupé (MG), Caconde, Iacanga e Embu (SP). Foi presidente da Comissão Comemorativa do Quarto Centenário da cidade de São Paulo. Encontra-se sepultado no Mausoléu do Soldado Constitucionalista de 1932, no parque do Ibirapuera, na cidade de São Paulo, ao lado de Ibrahim de Almeida Nobre, o “Tribuno de 32”, dos despojos dos jovens conhecidos pela sigla M.M.D.C. (Mário Martins de Almeida, Euclides Bueno Miragaia, Dráusio Marcondes de Sousa e Antônio Américo Camargo de Andrade), e do caboclo Paulo Virgínio.