D. Jerónimo Osório – Da Vida e Feitos de El-Rei D. Manuel. XII Livros Dedicados ao Cardeal D. Henrique seu Filho D. Jerónimo Osório Bispo de Silves Vertidos em Português Pelo Padre Francisco Manuel do Nascimento Vol. 1 e 2 – Livraria Civilização – Porto – 1944. Desc. 321 + 318 pág / 21 cm x 14,5 cm / E.
Jerónimo Osório da Fonseca Osório (Lisboa, 1506 — Tavira, 20 de Agosto de 1580) foi um humanista e teólogo português. Publicou várias obras, das quais se destacam De Nobilitate Civile Et Christiana (1542), De Gloria (1549), De Justitia Coelesti(1564) e De Vera Sapientia (1578). Pertenceu a uma antiquíssima família espanhola, cujo ramo português foi fundado por Martim Ozores, que se exilou em Portugal, no reinado de Fernando I de Castela, devido à hostilidade desse rei. Era filho de João Osório da Fonseca e de Francisca Gil Gouveia de cujo casamento, promovido pela rainha D. Leonor (esposa de D. João II), e por D. Beatriz (mãe da precedente e esposa do tio do rei, D. Fernando, Duque de Viseu), nasceu outro filho, Bernardo da Fonseca. Impedidos de acompanhar seu pai, que fora colocado como ouvidor-geral na Índia Portuguesa, por serem ainda crianças, D. Jerónimo e seu irmão ficaram em Lisboa onde são educados pela mãe. Na verdade, detentora de um grande “engenho”, D. Francisca Gil Gouveia enviou o seu filho Jerónimo Osório, aos 13 anos, para Salamanca, grande centro de cultura e ciências, onde aprendeu latim e grego. Aqui, e já com 16 anos, inicia o estudo de direito civil por indicação de seu pai, então regressado da Índia, embora não fosse esse o seu projecto de vida. Recorrendo a uma forte disciplina metodológica, consegue conciliar o estudo do direito com o dos autores gregos e romanos. Segundo o seu sobrinho, também chamado Jerónimo Osório, in Vida de Jerónimo Osório, português “a nobreza de alma e uma privilegiada disposição de todo o seu corpo…”, “pois foi sempre meão de estatura, ancho de peito, com as mãos ajeitadíssimas para o manejo das armas, de braços e pernas solidamente enrijados: e manteve-se com este vigor até à extrema velhice”, converteram-no num apreciador da vida militar. Por isso, e enquanto aguardava autorização dos pais para ingressar na Ordem Militar de São João, em Rodes, entregou-se simultaneamente ao estudo do direito e dos autores gregos e romanos e à religião. Depois de ter decidido dedicar-se por inteiro a Deus e fazer o voto de castidade em Salamanca, aquando da morte de seu pai, regressa a Portugal e a pedido da mãe larga definitivamente a milícia. Então, e já com 19 anos, foi para Paris para se dedicar ao estudo da Dialéctica de Aristóteles e da Filosofia Natural. Aqui atingiu um grande prestígio, sendo conhecido como o filósofo de Paris. Amigo de Inácio de Loyola, influenciou, mais tarde, D. João III de Portugal a chamar a Companhia de Jesus para Portugal. Fez estudos em Teologia cristã e os conhecimentos da língua hebraica permitiram-lhe ler as obras dos Santos Padres. Em 1537, D. João III nomeou-o professor de Sagrada Escritura na Universidade de Coimbra. Mais tarde foi para Bolonha e aí se manteve alguns anos, vivendo sempre de forma muito recatada. Nesta cidade, começa os Tratados da Nobreza civil e cristã, que dedicou ao príncipe D. Luís, de cujo filho, D. António, Prior do Crato foi educador. Aquando da morte de D. Luís, Jerónimo Osório tomou a decisão de se retirar para uma aldeia sertaneja, tendo sido muito criticado pelos amigos. A estas críticas, e de acordo com autor e obra acima referidos, Jerónimo Osório respondeu: “Tenho fraca mercadoria para levar comigo para a Corte; por isso, se não perder o juízo, não pode haver nenhuma esperança de mores ganhos capaz de provocar-me a transferir-me para lá por minha livre vontade e a afastar-me deste tão aprazível repouso, todo ele consagrado à sabedoria.” E essas mercadorias eram, respondia ele: “verdade e lealdade são aquelas mercadorias que eu posso levar para a Corte, às quais sei que em infinitos lugares se prefere o engano e a adulação; pelo que, justamente me temo que se para lá me mudo, ou falto ao meu dever, ou de lá sou expulso, oprimido pelas afrontas.” Pertenceu à Mesa da Consciência e assinou muitos documentos em nome de D. Henrique. Homem pouco ambicioso, por considerar que cada pastor devia apenas deter uma igreja, pediu que a igreja de Tavares, que lhe foi feita mercê pelo príncipe D. Luís, fosse entregue a outra pessoa. Nomeado bispo de Silves, manteve sempre uma grande ligação com os mais pobres facultando aos interessados a possibilidade de estudar as línguas clássicas e distribuindo esmolas e comida aos mais necessitados. Ajudava os lavradores e “ordenava que se armazenassem nos celeiros de Silves grandes quantidades de trigo, com a finalidade dos lavradores aí o poderem adquirir por preços módicos, quando deles necessitassem para as sementeiras – não fosse algumas vezes suceder que, por falta de trigo, ou por carestia dos géneros, se vissem compelidos e deixar as terras por semear”. Muito amado pelos pobres, praticou a justiça com equidade, lutando contra a corrupção dos costumes e “pela subordinação a um regime de vida exemplar, de ensinamentos, de preces e de lágrimas”. Foi encarregado pelo cardeal D. Henrique de secundar D. Sebastião I de Portugal na governação do reino. Esteve em Sevilha, Bolonha e Roma onde foi recebido pelo Sumo Pontífice Gregório I. Homem muito piedoso “com grande zelo da glória de Deus, extraordinário defensor da fé cristã, excelente teólogo…”, sempre subordinou os seus interesses aos da pátria e aos da verdade. Morreu com 74 anos.